quarta-feira, 25 de maio de 2022

20 ANOS DE LANÇAMENTO ALBUM RESPIRAR

Há exatos 20 anos chegava às lojas RESPIRAR, o oitavo álbum solo de Patricia Marx. Após um afastamento de 4 anos, período em que casou, teve um filho (Arthur, hoje com  22 anos) e tornou-se budista, ela retornava com um trabalho surpreendente e inovador de música eletrônica, que unia sons ainda pouco explorados no Brasil, como o broken beat, a sons  já conhecidos como jazz, bossa nova, soul, samba e MPB.

O CD foi lançado pela Trama, uma gravadora que havia sido fundada há pouco tempo e já se destacava no cenário musical pelo apoio à cena independente e lançamento de jovens talentos. Além disso, investia fortemente na divulgação da música eletrônica no Brasil. 

Embora Patricia já flertasse com a música eletrônica em seus trabalhos com Nelson Motta nos anos 90, a entrada definitiva no gênero se deu quando um amigo de Bruno E (seu marido na época e que já era conhecido na cena eletrônica) levou uma gravação em fita DAT dela cantando bossa nova para os  ingleses Marc Mac e Dego, integrantes do 4Hero, conceituado duo inglês e pioneiros no broken beat na cena musical de Londres. Eles gostaram tanto que a convidaram para participar do álbum em que estavam trabalhando na época, intitulado Creating Patterns, onde ela  gravou a faixa "Unique" (disponível nas plataformas digitais, ver nos stories), com letra em português da própria Patricia. Essa experiência foi fundamental para que ela resolvesse levar essas novas sonoridades para seu trabalho. "Foi uma experiência maravilhosa. Com o 4Hero, eu me libertei de certos conceitos com relação à música", disse ela na época. Foi com essa ideia na cabeça que ela começou a trabalhar em seu novo álbum, que viria a ser um divisor de águas em sua vida e sua carreira. 

Em Respirar, ela pôde finalmente mostrar mais seu lado compositora (ela assina como co-autora em 11 das 12 faixas ) e estrear como co-produtora (a produção do disco é dividida entre Bruno E, Mad Zoo e 4Hero). 

As músicas em Respirar traziam letras relacionadas a experiências que estavam sendo vividas por ela, como o budismo ("Despertar", "Nova Dimensão") e maternidade ("Chegou", "Submerso"). O lado mais pop e romântico do disco é representado pelas músicas "Demais Pra Esquecer" e "Sem Pensar". Em retribuição a participação de @patriciamarxoficial no álbum deles, os ingleses do 4Hero produziram (e foram co-autores) de duas músicas no disco dela, "Submerso" e "Dona Música".

O álbum conseguiu fazer uma bem-sucedida junção entre brasilidade e o que havia de mais moderno na música eletrônica feita na Europa. Um belo exemplo é "Dona Música", samba eletrônico em que faz um dueto com Wilson Simoninha, e que remete a "Zazoeira", sucesso dos pai do cantor (Wilson Simonal), que foi considerada pela crítica uma das melhores sacadas do disco. Outra faixas muito elogiadas foram "E Meu Amor Vi Passar", uma elegante bossa nova, com participação especial do músico João Parayhba e "Earth", que mistura um rap em inglês cantado por MC Kontrol e um trecho em português cantado por ela.

A música que abre o disco é "Chegou (para Arthur)", feita para seu filho, que havia nascido três anos antes do lançamento do álbum. Essa música trata de nascimento de uma perspectiva budista, assim como "Submerso", que trata de gravidez e interioridade. "Earth", "Nova Dimensão" e "Despertar" também contém sentimentos preconizados pelo budismo, como o da compaixão. Outras músicas do álbum falam de amor (e desamor): "Demais Pra Esquecer", um soul, com uma bela melodia que tinha muito potencial para virar hit, "Sem Pensar", música que embora não tenha sido lançada como single, é bastante conhecida pelo público que consome música eletrônica devido a um remix do DJ Marky e "Desamor, que trata do sofrimento após o fim de um amor, trazendo um pouco de esperança no final ("Mas quem sabe o céu pode se abrir/ Só assim eu vou me curar dessa solidão"), com linda letra (uma das minhas músicas preferidas do CD). Há também uma faixa cantada em inglês (a única não composta por ela): "Close" (Ady Harley/ Bruno E).

Até a voz e o estilo de interpretação de Patricia mudaram a partir desse álbum. Ela dedicou-se a uma pesquisa de timbres e regiões, que ela ainda não havia explorado antes. Para tornar seu canto mais limpo, sua maior referência foi Chet Baker, que interpretava longas linhas melódicas sem vibrato. Outras referências foram (entre outros) cantoras como Elizeth Cardoso, Julie London e Jill Scott, além de seus ídolos Tom Jobim e João Gilberto. 

O encarte do CD é um luxo à parte, com belo grafismo e feito com material reciclado, além de ter trazido uma surpresa para os seus fãs: a primeira foto divulgada do seu filho Arthur. 

Ainda hoje, Patricia considera Respirar um dos seus trabalhos favoritos. "É um disco que representa o nascimento do meu filho, a minha ida para o budismo, é a minha descoberta como compositora", declarou ela recentemente. E ontem em um post que fez falando do aniversário de 20 anos do álbum, fez uma bela declaração sobre ele: "(...) Faz 20 anos que lancei o meu primeiro álbum como compositora, numa fase totalmente diferente.  Na discografia, ele é o meu 8o álbum solo. Produzido e dirigido pelo meu ex marido e pai do Arthur, o  Bruno E foi o maior incentivador do meu processo como compositora. 
Fizemos inúmeros álbuns juntos em 18 anos de casamento. São obras inesquecíveis e incomparáveis. Bruno sempre genial em suas composições, parcerias e arranjos. Inigualável. 
“Respirar” é o início de tudo, e o fim de uma era. É a fase azul, meditativa, mulher, mãe aos 25 anos.
Em total potência de criação. 
“Chegou (Para Arthur)” é uma história espiritual da chegada dele na minha vida".



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