Lançado em setembro de 2004 na Europa, o álbum Patricia Marx chegou ao Brasil apenas no final de fevereiro de 2005. Aos 30 anos, a cantora estreava como produtora em seu nono disco solo, mergulhando no estilo nu soul, com influências de broken beats, soul dos anos 70 e bossa nova. "Pela primeira vez, dirigi meu próprio trabalho e fiz exatamente tudo como eu queria", declarou ela. Determinada a imprimir sua identidade musical, ela escolheu minuciosamente cada timbre no estúdio, ajustou cada arranjo e moldou o som de acordo com sua visão artística. Ela ainda decidiu tudo sobre as composições, técnicos, músicos, parcerias e até fotógrafos (a linda capa do álbum é do requisitado Jacques Dequeker).
Inicialmente, o disco se chamaria Lazy Soul e chegou a ser divulgado com esse título no exterior. No entanto, o projeto tornou-se tão pessoal que, antes mesmo de chegar às lojas, acabou rebatizado simplesmente como "Patricia Marx", funcionando como uma assinatura de sua obra mais autoral, até então. Em entrevistas, ela contou sobre o processo de realização do álbum:
"Quis compor, tocar e fazer arranjos para as faixas. Tinha aprendido música e piano na adolescência e com a experiência de tantos anos em estúdio, resolvi colocar em prática tudo o que eu tinha visto, ouvido e aprendido. Lógico que na prática eu apanhei muito na hora de mixar, os equipamentos usados para equalizar. Mas fui muito também pelo meu ouvido e coração. Eu ia buscando lá no fundo da minha mente, os timbres e tipo de sonoridade que queria para cada música. Foi uma grande escola. Mas fiquei muito satisfeita com o resultado e acho, sem menosprezar os outros meus álbuns, que esse é o que mais gosto e que acho mais maduro"
A versão do álbum lançada no Brasil é diferente daquela disponibilizada no exterior. Além de trazer uma ordem de faixas diferente, a edição brasileira conta com duas músicas extras: "Dias de Sol" e uma nova versão de "Diz", agora com o rap de ParteUm cantado em português.
Os ingleses Dego MacFarlane e Marc Mac, do 4Hero, que já haviam contribuído significativamente no disco anterior (Respirar, 2002), marcaram presença novamente em duas faixas: "We Know" e "Menino". O álbum também traz composições assinadas por Patricia em parceria com seu então marido, Bruno E. ("New Life", "Lotta Luck", "Lá no Mar"), Jair Oliveira ("Burning Luv", "New Life", "Sentido"), Silvera ("Wheels of Life", "Nu", "Diz", "Dias de Sol"), o músico inglês Ady Harley ("Wheels of Life", "Lotta Luck"), além de Robinho Tavares, Marcelo Maita e Ivan Carvalho, que assinam "Burning Luv" junto com Patricia e Jair Oliveira.
Sobre algumas dessas parcerias, ela falou ao portal Inter Papo: "No início, fiz tudo sozinha, até que as pessoas foram surgindo. Eu conheci o trabalho do Silvera em 2003 e descobrimos muitas afinidades. Sou fã do Jair, acho que ele escreve muito bem, adoro seu trabalho. O 4Hero, eu conheço do disco anterior e quis trazer pra esse CD um pouco da cultura deles também, desse soul. A ideia é mostrar no disco um pouco da minha experiência em Londres. Essa eefe está muito presente. Minha ida pra Europa foi interessante pra conhecer o mercado e absorver as experiências musicais. Voltei assumindo meu lado soul mesmo".
Sobre "Menino", um dos destaques do álbum e uma de suas faixas favoritas, Patricia revelou: "Essa eu fiz pro meu filho Arthur, mas, no fundo, tem duplo sentido. Menino e menino-homem". Já "Burning Luv" foi a música de maior repercussão na Europa, chegando a ser transformada em ringtone de celular na época por lá.
Outra faixa marcante, "Lá no Mar", é uma homenagem às entidades femininas, às deusas budistas e a todas as figuras femininas fortes, como Patricia explicou em entrevista ao IG Pop em 12/06/2005. Sobre as influências do álbum, ela destacou a importância da sonoridade das décadas de 70 e 80 no seu trabalho: "Quando eu era criança, ouvia muita Black music na Band FM. Como gosto desse som até hoje, resolvi incorporar essas referências no CD".
A recepção do álbum na Europa superou as expectativas de Patricia. "A reação foi ótima. Como novata no mercado estrangeiro, não esperava tamanha receptividade. Mas sou brasileira, e quero dar esse troféu pro meu país".
As críticas internacionais não poderiam ter sido melhores. A prestigiada revista DJ Magazine deu ao disco 4 estrelas (de um total de cinco) e destacou: "Erykah Badu e Lauryn Hill que se cuidem, tem garota nova no pedaço. E com a vantagem de ter uma alma brasileira." A revista ainda chamou o álbum de "puro ouro brasileiro" e afirmou que ele estava um passo à frente do seu último disco ("Respirar"). Já a londrina Time Out elogiou sua performance vocal, descrevendo-a como uma "menina pequena com pulmões grandes". Benolt Repoux, da revista francesa Trax, deu três estrelas e meia de cinco e salientou que Patricia brilhou no tom minimalista e que é "um convite a preguiça, com um suplemento para a alma". O jornal francês Infos Bresil fez uma avaliação favorável na qual afirmou que "o clima é fortemente atmosférico, pulsado pelos ritmos de um indiferente ambiente electro e sublinha uma interpretação impregnada de alma".
"Fico feliz com esses elogios, claro. Embora tenha sido gravado há algum tempo (entre 2003 e 2004), esse disco representa perfeitamente o meu momento, uma fase de segurança e controle do meu trabalho", declarou Patricia ao jornal O Globo, em matéria publicada em 24/02/2005.
Já aqui no Brasil, a revista MTV destacou a faixa "New Life" como uma das melhores músicas entre todas as lançadas naquele mês, elogiando: "Trabalho maduro da cantora, com pitadas jazzísticas e presença do marido Bruno E." Aaron M. do site brasileiro Território da Música, definiu a sonoridade como "mais ‘soft’, diluído, que a possante música negra, trazendo um verniz contemporâneo às composições da cantora" e avaliou com quatro de cinco estrelas. Concluiu escrevendo: "é um ótimo trabalho com uma sonoridade moderna que traz principalmente, para o alívio dela e também dos fãs, uma Patricia Marx segura e confiante, revelando-se uma ótima cantora de Soul" Já o crítico Mauro Ferreira (da revista Isto é Gente e do jornal O Dia, na época do lançamento) fez algumas ressalvas: "O disco tem boa produção, mas por conta do fraco material autoral, não decola".
Em entrevista à revista Vogue RG, Patricia falou sobre o longo processo de produção do disco: "Esse disco foi uma longa gestação – 18 meses no total. Tive que conciliar essa produção com as três turnês que fiz pela Europa e minhas vindas pro Brasil... uma loucura! Mas a paciência é uma virtude, e tudo valeu a pena. Ficou como eu queria."
Já ao site Músicas & Afins, ela comentou sobre sua estreia como produtora: "Já estava mais do que na hora de eu produzir meu próprio trabalho, só me faltava um pouco mais de experiência para assumir algo tão grande. Na verdade, eu até já me sentia um pouco preparada, de tanto acompanhar os produtores nos estúdios e ver como as coisas eram feitas, mas faltava uma vivência mais prática, de realmente colocar a mão na massa. O mais complicado foi a parte burocrática: organizar tudo, horários, pagamentos, prestação de contas para a gravadora. Se preocupar com isso às vezes rouba tempo do lado musical. E, na hora de gravar, você precisa se desligar de tudo e cantar, estar plena... mas eu consegui!"
Na mesma entrevista, Patricia refletiu sobre a recepção do público brasileiro ao álbum: "Espero que recebam bem. Meu CD não é algo complicado nem totalmente estranho aos ouvidos brasileiros. O soul é um som universal." Quando perguntada sobre sua relação com o sucesso e se essa era uma preocupação ao lançar um novo disco, respondeu: "Essa fase já passou. O sucesso que fiz antes era outra coisa, outro trabalho. Foi importante ter vivido aquilo, ter essa experiência. Agora estou mais próxima da minha essência, bem perto daquilo que gosto de fazer. Não há interferência de ninguém, nem tendência ou modismo que eu precise seguir. Sucesso, para mim, hoje em dia, é reconhecimento, carinho e respeito das pessoas pelo meu trabalho.", finalizou.