terça-feira, 21 de março de 2023

ENTREVISTA COM PATRICIA MARX E WADO NO DIÁRIO DO PARÁ

Matéria com Patricia Marx e Wado, publicada na capa e na página 2 do caderno cultural do jornal Diário do Pará, no dia 17/03.  Os artistas falam sobre o processo de criação do recém lançado álbum MARXWADO, disponível em todas as platatornas digitais. 

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Duas vozes se uniram para dar vida a um projeto que passeia por grandes referências da música nacional, mas que se traduz em algo novo, com clamor social. É dessa forma que surge "MarxWado", álbum de Patricia Marx e Wado, que já está disponível em todas as plataformas digitais.

Um fenômeno da década de 1990, a cantora Patricia Marx se mantém constante na sua produção musical. Mas ela queria mais e queria ousar. O cantor e compositor alagoano Wado, por outro lado, segundo a própria parceira de trabalho, "conseguiu traduzir" aquilo que ela almejava em um projeto musical novo. O album, então, é fruto desse encontro dos artistas por meio de um amigo em comum, o também cantautor Sergio Martins (Sergiopi, fundador do LAB 344, selo boutique pelo qual o álbum foi gravado.)

Sete faixas contemplam bem a mistura brasileira de ritmos, marcadas ainda com forte clamor social, protagonizadas nas faixas "Bom Parto" e "Vozes Trans". Na letra de "Bom Parto", Wado retrata os locais próximos da tragédia que acometeu Maceió (AL) recentemente, onde mais de três bairros inteiros foram evacuados por conta da mineração predatória. "Eu acho o resultado do disco muito lindo. E uma peça única de ser Brasil e de ser contemporâneo. O álbum está bem em 2023", define Wado, que estará em São Paulo em abril para trabalhar em outro projeto seu com Zeca Baleiro, um disco de dez musicas inėditas compostas por ele durante a pandemia.

Essa sapiência do fazer artístico de Wado é elogiada por Patricia. "Ele é muito inteligente, além de cantor, é artista plástico. Ele entendia o que eu queria. Estava desejando alguma coisa de musicas antigas e aí toquei em nomes de Maysa, Elizeth Cardoso e outras bem antigas, o Wado pegou a ideia e traduziu numa linguagem mais atual, então foi bem legal porque é uma pessoa que te traz toda a imagem do que você quer. Ele traduziu isso para uma coisa mais contemporânea, isso é interessante, é legal uma parceria assim", enaltece.

"Vozes Trans" é o berço de tudo, considera Wado. "Ela funda o disco e dá um norte para ele. Mostrei ela pra Patricia antes da gente ter a certeza que a gente faria o disco. A gente tem uma coisa que afina com um discurso que a gente tem hoje, de se posicionar mais à esquerda mais pelas liberdades das pessoas, pelo direito civil, pela civilidade, pela evolução humana e também pela paixāo que a gente teve pela música. Essa música é um pouco uma homenagem à Linn [da Quebradaj que é uma voz trans maravilhosa brasileira", analisa Wado. "Hoje em dia, não dá para separar a musica, a arte, do discurso politico. Inclusive quando a gente fala sobre amor, é isso também, é um discurso politico. A gente nem tinha pensado ainda nessa coisa de falar sobre a comunidade LGBTQIA+, mas vi que estou estudando muito sobre isso, agora estudando sobre gêneros. A música foi um discurso bem universal, então ela fala de trans, que pode ser transgênero, pode ser transpor, transitar com a coisa do amor, do afeto. A gente foi por essa linha de pensamento estético", diz Patrícia.

Patricia Marx conta que a produção do álbum ocorreu depois de um convite que Wado fez a ela, após a regravação de uma musica de Caetano Veloso chamada "Aquele Frevo Axé (Caetano/Cezar Mendes), que está no penultimo álbum dele. A partir dali o encontro tinna que se repetir, conta a cantora. "Eu gostei muito da sonoridade das vozes, do casamento das vozes, da sutileza. E aí eu tive a ideia de fazer um trabalho com ele".

O diálogo continuou entre os dois a distância e o sonho do disco fluiu. "Até então não nos conhecíamos pessoalmente e aí começamos a trabalhar esse repertório. Foi uma parceria mesmo, foi bem legal. Para mim foi muito interessante porque eu não conhecia muito a fundo o trabalho do Wado, a linguagem que ele usa no trabalho dele, foi muito interessante surtar nessa sonoridade e nesse conceito que ele tem, só acrescentou e agregou. Eu sou uma pessoa que adora fazer coisas novas, navegar em outros mares", afirma a artista.

Foi a vez de Wado apresentar suas composições. "Patrícia falou das coisas que ela gostava de ouvir, me mostrou um monte de música boa. Mostrei algumas coisas inéditas minhas para ela também que podiam ter outro tamanho na voz dela. Eu também sou fã da Patrícia, estava meio timido no início, porque ela é uma das divas da música brasileira e para mim foi uma honra imensa fazer parte. Estou muito feliz e tenho muito orgulho dele. Foi um disco feito a quatro mãos. Então foi uma aventura eu diria, algo que nem ela faria dessa forma sozinha e nem eu faria também. Acho que é mais bonito assim: esse encontro tem frescor, novidade de ser essa terceira coisa, que não é exatamente um disco meu ou um disco dela, mas é um disco nosso", completa o artista. "Artisticamente, ele é muito ousado, trabalha com esses matizes da música brasileira que são o samba, o xote, o funk carioca de uma forma bem moderna. Tem um frescor e ao mesmo tempo que é moderno, também não é dificil de ouvir. E um tipo que comunica. E para ouvir em um domingo à tarde com a famíliainteira", acrescenta Wado.


PLAYLISTS

A cada semana, uma faixa se torna mais especial que as outras. Agora, a faixa da vez para Wado é "Bom Parto". Ela tem um assunto interessante, traz a cidade de Maceió, que é onde eu moro, no Nordeste do Brasil. Ela está vivendo hoje a maior tragédia urbana do mundo em curso, com uma mineradora que cavou quatro bairros e os deixou ocos. Eles tiveram que comprar as casas das pessoas e tirá-las de casa e a canção cita isso. Foi um trauma muito grande. São mihões de pessoas que perderam imóveis, inclusive a minha esposa tinha um escritório de onde teve que sair".

"Bom Parto", ele continua, é o nome de um dos bairros que foi destruído. "Essa destruição é feita pela mineração predatória que acontece há mais de 40 anos aqui no estado de Alagoas. Eu gosto dessa canção porque além de ser um xote, que é um ritmo nordestino, ela tem esse viés politico", detalha ele. 

Bom Parto" e "Minha voz, Minha vida" são as escolhidas por Patrícia Marx. "Euamo todas, mas às vezes tem as que você escuta mais e eu sou apaixonada pela faixa Bom Parto'. Ela é uma coisa mais melancólica. O disco todo é, digamos, "pra cima". Aí tem ela que é melancólica e eu me identifico com isso. E uma canção canceriana nossa. 'Minha voz, Minha

Vida' é outra que amo. Ela é e uma musica que eu canto desde criança, que a Gal é a minha professora de canto maior. 0 álbum dela que tem essa música, eu furei, de tanto ouvir. Eu era pequeninha e, tipo, estava em casa cantando e virava do outro lado, cantava, imitava a Gal e falava 'nossa, é isso'. Tem essa importäncia maravilho-sa", avalia. 

Matéria: Wal Sarges 





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