Em matéria publicada no GShow no dia 28 de junho (seu aniversário e, coincidentemente, Dia do Orgulho LGBTQIA+ também). Reproduzimos abaixo, a matéria da jornalista Ana Paula Bazolli:
“Eu sou a própria bandeira LGBTQIA+ e tenho orgulho de assumir meus desejos. É um caminho doloroso, solitário, mas depois que chega, meu bem, não tem para ninguém!", vibra Patrícia Marx como quem deu um grito de liberdade após assumir sua orientação sexual há quatro anos.
Com a certeza de estar feliz como nunca, ao lado da namorada Renata Pedreira, a cantora comemora seus 50 anos, nesta sexta-feira (28), Dia Internacional do Orgulho LBGTQIA+.
Famosa por integrar, na década de 80 e 90, o grupo infantil Trem da Alegria, ao lado de Juninho Bill e Luciano Nassyn, ela celebra ter nascido neste dia tão importante para a comunidade: “É uma coincidência maravilhosa do universo. Me assumi neste dia em 2020 e fui bem recebida. É uma comemoração dupla”, diz.
A dona dos sucessos "Espelhos D'Água", trilha de "Malhação", e "Quando Chove", de "A Viagem", conta que desde a adolescência sentia vontade de se relacionar com pessoas do mesmo sexo, mas tinha medo de não ter aprovação familiar.
A dona dos sucessos "Espelhos D'Água", trilha de "Malhação", e "Quando Chove", de "A Viagem", conta que desde a adolescência sentia vontade de se relacionar com pessoas do mesmo sexo, mas tinha medo de não ter aprovação familiar.
Após anos de desejos reprimidos, a artista agradece à psicanálise, que a ajudou a se assumir lésbica. Diante desse movimento, nada poderia ser mais natural do que oficializar a união com a mulher que colore seus dias.
"Já moramos juntas há 3 anos e meio e me sinto casada. Nesse ponto, o relacionamento de mulheres é bem objetivo. Mas vamos oficializar no final de agosto. Vai ser discreto e só no civil para família. A gente prefere viajar”, explica.
A relação madura com Renata, após relacionamentos heteroafetivos, inspira Patricia. “Apesar de achar que eu deveria ter me assumido mais cedo, não tenho arrependimento. Não tinha condições psíquicas. Tinha muita projeção dos outros. Era a menina da bolha. Hoje tenho maturidade para ter uma relação mais tranquila e transparente. A melhor que já tive".
Chegar aos 50 é transformador para Patrícia, que busca o tempo todo autoconhecimento: “É uma mudança radical. Nunca estive tão bem, não tinha noção do quanto estaria melhor ainda. Muito trabalho de análise, faço há mais de 10 anos, e sou muito empenhada de me trabalhar, me entender, sou muito corajosa.”
Para ela, a idade tem seu lado bom e outro nem tanto: “A maturidade traz mais clareza e menos paciência com gente que fica patinando, repetindo as coisas.”
A cantora começou a ter sintomas desagradáveis da menopausa há dois anos. Sentia dor no corpo, desânimo e falta de energia. Há seis meses, faz reposição hormonal e sua vida mudou para melhor.
Emocionalmente, estou muito bem. Fisicamente, a gente sente as mudanças do corpo, menopausa, e isso é uma novidade para mim. Faço reposição e achei uma benção. Melhorei dos sintomas. Esse calor me deixava estressada, nervosa e agora estou no céu.”
Os cinquenta anos e a menopausa não influenciaram na vida sexual da artista, que acredita que o tesão está na mente: “A libido está muito mais na cabeça que no corpo. O hormônio dá um suporte importante, mas a gente tem algumas questões do inconsciente que levam a ter menos ou mais libido”,explica. "Em um relacionamento homoafetivo, entre mulheres, a cobrança de estar sempre com vontade, à disposição para o sexo, não existe, é zero. As mulheres estão cansando dos homens héteros e dessas cobranças".
Patrícia foi casada com o pai de seu filho, Arthur, de 15 anos, agradece o que viveu, mas enumera as vantagens de sua relação com Renata: “Não tem nada a ver com uma relação hétero. Tem várias coisas muito melhores. O entendimento das coisas, não precisa repetir, é quase telepático. A mulher já saca as coisas, a subjetividade está presente. Uma coisa que eu e Renata amamos é que a gente conversa muito, valoriza a companhia e tantas coisas que não consegui ter em um relacionamento hétero.”
"Tive algumas relações ao longo da minha vida com mulheres, bem rápidas. A Renata foi meu primeiro namoro. É a melhor relação que tive até hoje. Não tem ruído, é muito clara. Antes, eu tinha medo de falar, da explosão, de ser jogada para baixo.”
Patrícia conta que foi experimentar a liberdade plena após tornar público o seu namoro com Renata: “Assumir minha sexualidade foi uma grande libertação. Estava dando murro em ponto de faca. Eu já tinha essa vontade, sempre me chamou na adolescência e achava que era algo da minha cabeça, que era fantasia. Imagina? Na minha família? Fui trabalhando na análise e vendo que o caminho era esse.”
Quando se assumiu, Patrícia recebeu muitas mensagens e pedidos de ajuda nas redes sociais: “Mulheres disseram que tinham medo do pai, filho, família. Recebo mensagens do tipo: 'Me assumi e me inspiro em você'. Outras que querem assumir e não conseguem. É muita responsabilidade ser uma pessoa pública. Meu maior medo era a minha mãe. Ela teve uma educação rígida, religiosa. Hoje ela ama a Renata e diz que é filha dela."Um dia antes de postar, escrevi um texto para minha mãe, meu pai e meu filho. Meu filho disse que eu tinha que ser feliz. A gente cria muito medo do que vão achar e não tem jeito. Estou aqui e sou essa."
Foi no dia de seu aniversário de 46 anos que Patrícia decidiu não mais esconder sua orientação sexual. Fez um post nas redes sociais declarando seu amor, e respirou aliviada. "Pensei em virar monge, mas era fuga. Na análise, fui trabalhando esse novo momento e me abri para isso. Mudei cabelo, o visual começou a comunicar. Foi quando a Renata apareceu. Eu diria para mim aos 15 anos: vai fundo e segue seus desejos."
Como pedido de aniversário antes de apagar as velinhas, ela gostaria que o amor e a empatia se estendessem para além da sigla LGBTQIA+: "Todas as pessoas devem ser respeitadas. Essa é a grande lição desse século, conviver, respeitar e entender. Tenho consciência que eu, como pessoa pública, branca, cis e classe média, tenho um privilégio. Não seria assim se fosse uma mulher negra, periférica."
Cursando o primeiro ano de psicologia, a cantora se interessa pela psicanálise há tempos e tem vários cursos na área. Quando se formar, ela quer clinicar e ajudar pessoas.
"Não sou completa, não espero ser, a falta me faz buscar. Estou mais preenchida do ser do que do ter. Quando me chamam pra um programa de TV, vou com maior prazer, mas faço shows bem pontuais. Tenho muita demanda da faculdade e estou dedicada."
O Trem da Alegria continua na vida da artista. "Eu e o Luciano somos amigos. Umas quatro vezes ao ano a gente faz alguns shows do projeto Trem da Alegria Celebration. Cantamos os nossos maiores sucessos. É uma delícia e os fãs adoram."