A reprise da novela A Viagem, pelo Viva e Globoplay, trouxe mais uma vez de volta o hit Quando Chove, que na década de 90 foi uma marco na carreira de Patricia Marx. A cantora, que conquistou ainda criança com o Trem da Alegria o sucesso na música, relembra que a canção e o álbum Ficar Com Você marcaram sua passagem da adolescência para a fase adulta.
“Essa música e esse álbum representaram uma ruptura para mim. Eu vinha de um grande sucesso, o 'Sonho de Amor', que representava ainda essa fase adolescente e era um trabalho solo mais voltado para a grande massa. 'Ficar Com Você' foi dirigido pelo Nelson Motta. Fui para Nova York, onde ele morava, para gravar e nessa época conheci de perto o cenário da dance music, que era novidade. Abracei todo aquele conceito e inclui essa balada que é a 'Quando Chove', uma versão em português da canção de Plinio Danieli. Ouvi muito Janet Jackson para me inspirar e tive a sorte da música entrar na novela. Todas as vezes em que 'A Viagem' reprisa as pessoas amam”, relembra.
Com mais de três décadas de carreira e outros sucessos em seu repertório como Espelhos D´Água e Ficar com Você, Patricia conta que não foi fácil quebrar essa imagem de menina que as pessoas tinham dela. Um desafio ainda maior era vencer o machismo e mostrar que era uma mulher adulta capaz de fazer suas próprias escolhas.
“Tanto no meio artístico como fora dele, os homens sempre queriam estar acima das mulheres e invalidar as que não se deixavam ser controladas por eles. Enfrentei muito esse machismo. Fui criada para agradar os outros. Mesmo quando trabalhei com o pai do meu filho, que foi supergeneroso comigo e sempre me incentivou muito, eu ainda tinha discussões porque não conseguia fazer do meu jeito. A verdade é que só consegui colocar limites em relação a isso recentemente”, conta ela, que foi casada por 18 anos com produtor musical Bruno E., com quem tem Arthur, de 21 anos.
Atualmente com 46 anos, Patricia vive a fase mais liberta e feliz de sua vida. Nos dois últimos anos, ela revisitou questões do passado. Fez um turnê com Luciano Nassyn relembrando os tempos de Trem da Alegria, gravou o EP João - que resgatou canções que marcaram sua formação musical inspirada em João Gilberto -, e também venceu um medo da adolescência e se permitiu viver o primeiro relacionamento lésbico.
“Até minha vida sexual acabou se tornando uma grande ruptura com todo esse universo machista. Finalmente tive a coragem de me assumir lésbica. Me permiti viver isso também porque vi que as relações com os homens não davam certo. Eu tinha interesse em mulheres desde a adolescência, mas reprimia isso porque fui educada em uma época homofóbica que fazia das lésbicas uma chacota. Eu tinha medo. Eu mesmo era homofóbica. Lutava contra mim, me agredia, não gostava de mim mesma, achava que era errado e feio... Eu vivi essa coisa esquisita de me reprimir. Me sentia incompleta e com um vazio mesmo tendo uma carreira, um filho e uma casa. Depois de muitos anos de análise, me permiti experimentar e ver se aquilo era um desejo real. Mudei a minha cabeça e a minha vida. Nunca estive tão liberta”, explica ela, que namora há um ano Renata Pedreira.
Essa liberdade também despertou uma nova faceta artística da cantora, que se descobriu artista plástica com a crypto art, arte digital de edição limitada e registrada criptograficamente com um token. Patricia sonha em fazer sua primeira exposição e vender obras também por meio de bitcoin (moeda digital).
“Dei uma pausadinha com a música porque comecei a pesquisar outras coisas na pandemia. Preciso também me renovar, ter um momento diferente, me reciclar. Nunca paro de criar, mas agora estou fazendo cursos de colagem e designer gráfico. Meu pai é arquiteto e eu sempre frequentei muito exposições. Com a Crypto Art descobri que posso compor de outra forma além da música. Queria muito criar por meio de uma mensagem não dita e nem cantada, mas visual. Uso fotografias, tesoura, papéis, colagens e faço tudo do computador. Estou ainda começando com isso, mas já tenho um bom material. Seria um sonho expor e quem sabe vender essa arte”, conta.
Isso não significa que novos projetos musicais estejam distantes de serem realizados. Patricia adianta que tem algumas canções feitas durante esse período de isolamento social e que apresentará mais uma nova versão de si mesma.
“Estou voltando em um outro momento. Até o registro vocal será diferente. Mas estou fazendo tudo isso bem aos poucos. Já tenho definido mesmo que eu que quero fazer capa. Vai ser uma das minhas artes”, adianta ela, que fará no dia 16 de maio um show com o Trem da Alegria, que teve a data transferida para esse ano por causa da pandemia.
MATÉRIA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO SITE DA QUEM DIGITAL
Entrevista: Marina Bonini (@marina_bonini)