terça-feira, 16 de março de 2021

PATRICIA MARX CELEBRA NOVA FASE ARTÍSTICA E AMOROSA

 A reprise da novela A Viagem, pelo Viva e Globoplay, trouxe mais uma vez de volta o hit Quando Chove, que na década de 90 foi uma marco na carreira de Patricia Marx.  A cantora, que conquistou ainda criança com o Trem da Alegria o sucesso na música, relembra que a canção e o álbum Ficar Com Você marcaram sua passagem da adolescência para a fase adulta.

“Essa música e esse álbum representaram uma ruptura para mim. Eu vinha de um grande sucesso, o 'Sonho de Amor', que representava ainda essa fase adolescente e era um trabalho solo mais voltado para a grande massa. 'Ficar Com Você' foi dirigido pelo Nelson Motta. Fui para Nova York, onde ele morava, para gravar e nessa época conheci de perto o cenário da dance music, que era novidade. Abracei todo aquele conceito e inclui essa balada que é a 'Quando Chove', uma versão em português da canção de Plinio Danieli. Ouvi muito Janet Jackson para me inspirar e tive a sorte da música entrar na novela. Todas as vezes em que 'A Viagem' reprisa as pessoas amam”, relembra.

Com mais de três décadas de carreira e outros sucessos em seu repertório como Espelhos D´Água e Ficar com Você, Patricia conta que não foi fácil quebrar essa imagem de menina que as pessoas tinham dela. Um desafio ainda maior era vencer o machismo e mostrar que era uma mulher adulta capaz de fazer suas próprias escolhas.

“Tanto no meio artístico como fora dele, os homens sempre queriam estar acima das mulheres e invalidar as que não se deixavam ser controladas por eles. Enfrentei muito esse machismo. Fui criada para agradar os outros. Mesmo quando trabalhei com o pai do meu filho, que foi supergeneroso comigo e sempre me incentivou muito, eu ainda tinha discussões porque não conseguia fazer do meu jeito. A verdade é que só consegui colocar limites em relação a isso recentemente”, conta ela, que foi casada por 18 anos com produtor musical Bruno E., com quem tem Arthur, de 21 anos.

Atualmente com 46 anos, Patricia vive a fase mais liberta e feliz de sua vida. Nos dois últimos anos, ela revisitou questões do passado. Fez um turnê com Luciano Nassyn relembrando os tempos de Trem da Alegria, gravou o EP João - que resgatou canções que marcaram sua formação musical inspirada em João Gilberto -, e também venceu um medo da adolescência e se permitiu viver o primeiro relacionamento lésbico.

“Até minha vida sexual acabou se tornando uma grande ruptura com todo esse universo machista. Finalmente tive a coragem de me assumir lésbica. Me permiti viver isso também porque vi que as relações com os homens não davam certo. Eu tinha interesse em mulheres desde a adolescência, mas reprimia isso porque fui educada em uma época homofóbica que fazia das lésbicas uma chacota. Eu tinha medo. Eu mesmo era homofóbica. Lutava contra mim, me agredia, não gostava de mim mesma, achava que era errado e feio... Eu vivi essa coisa esquisita de me reprimir. Me sentia incompleta e com um vazio mesmo tendo uma carreira, um filho e uma casa. Depois de muitos anos de análise, me permiti experimentar e ver se aquilo era um desejo real. Mudei a minha cabeça e a minha vida. Nunca estive tão liberta”, explica ela, que namora há um ano Renata Pedreira.

Essa liberdade também despertou uma nova faceta artística da cantora, que se descobriu artista plástica com a crypto art, arte digital de edição limitada e registrada criptograficamente com um token. Patricia sonha em fazer sua primeira exposição e vender obras também por meio de bitcoin (moeda digital).

“Dei uma pausadinha com a música porque comecei a pesquisar outras coisas na pandemia. Preciso também me renovar, ter um momento diferente, me reciclar. Nunca paro de criar, mas agora estou fazendo cursos de colagem e designer gráfico. Meu pai é arquiteto e eu sempre frequentei muito exposições. Com a Crypto Art descobri que posso compor de outra forma além da música. Queria muito criar por meio de uma mensagem não dita e nem cantada, mas visual. Uso fotografias, tesoura, papéis, colagens e faço tudo do computador. Estou ainda começando com isso, mas já tenho um bom material. Seria um sonho expor e quem sabe vender essa arte”, conta.

Isso não significa que novos projetos musicais estejam distantes de serem realizados. Patricia adianta que tem algumas canções feitas durante esse período de isolamento social e que apresentará mais uma nova versão de si mesma.

“Estou voltando em um outro momento. Até o registro vocal será diferente. Mas estou fazendo tudo isso bem aos poucos. Já tenho definido mesmo que eu que quero fazer capa. Vai ser uma das minhas artes”, adianta ela, que fará no dia 16 de maio um show com o Trem da Alegria, que teve a data transferida para esse ano por causa da pandemia.

Você lançou o EP João no começo de 2020. Como foi essa escolha de homenagear João Gilberto?
Essa paixão pelo trabalho dele é de infância. A bossa nova tem uma ligação muito familiar e sentimental para mim. Cresci ouvindo muita bossa nova com o meu pai. Ele é apaixonado por MPB. O João contribuiu para o meu crescimento artístico. Ia fazer um show em Nova York com um repertório só de músicas dele. Acabou não acontecendo e o meu selo propôs gravar um EP. Gravei voz e violão para não fugir do estilo dele. Estudei bastante para poder fazer uma homenagem mesmo.

Como foi ter que parar tudo por causa da pandemia?
Eu nunca fui artista de fazer muitos shows. Sempre trabalhei mais em estúdio. Fazia shows mais pontuais. Eu prefiro trabalhar assim porque gosto de ter esses espaços para me renovar e criar. Também sempre vivi o isolamento. Sou uma pessoa mais introspectiva e não gosto de sair muito de casa. Nesse período me descobri em outras coisas, estudar e experimentar outras forma de arte, como a crypto art. Também tenho estudado muito sobre política, racismo e fascismo. Geralmente, saio de casa para supermercado e para ir na casa da Renata, que mora perto de mim. A gente também faz umas viagens de carro para lugares isolados.

Você começou a carreira muito novinha. Como foi passar pela adolescência e depois pela mudança de menina para mulher diante dos holofotes?
Foi restritivo. Tive uma vida muito restrita no sentido social. Pulei fases naturais como ser humana. Estava sempre em função do trabalho e das responsabilidades. Era uma criança talentosa que era cobrada como se fosse uma adulta. Isso foi ruim. Tive que tratar na terapia depois que casei e tive filho. Mas ficaram os buracos das fases que pulei.


A maternidade te fez olhar de outra forma para a vida?
A maternidade me transformou muito. Comecei a compor e olhar mais para mim como mãe e mulher. Também passei a ter mais compaixão pelas pessoas. Estudei 20 anos o budismo, participei de congressos sobre vegetarianismos, que eu já seguia desde os 16 anos, e fui me envolvendo mais com essa causa da proteção dos animais.

No ano passado você assumiu ser lésbica pelo Instagram. Como foi essa decisão?
Antes disso, eu falei com a minha família e com meu filho. Mandei uma mensagem enorme para os dois. Meu filho respondeu que não era ninguém para me julgar e disse que se eu estava feliz, ele também estava. Ele era a pessoa mais importante que precisava ouvir o feedback. Com a minha mãe, tive muito receio. Achava que ela fosse me julgar ou parar de me amar porque ela foi criada em uma família católica, mais conservadora e em uma sociedade homofóbica. Ela ainda teve um tempo para entender, mas também me disse que o que mais importava era a minha felicidade e que abençoava meu namoro. Depois que as duas pessoas mais importantes para mim já estavam sabendo, resolvi contar para o mundo no dia do meu aniversário.

Teve medo?
Não tive medo e fiz na maior alegria aquele post. Fui muito bem recebida. Recebi muitas mensagens de carinho e histórias de mulheres que também tinham medo de se assumir. Claro que algumas pessoas não aceitam tanto o novo, se prendem a uma fase da nossa vida. Não aceitam gostos diferentes dos que elas têm. Azar o delas porque não sabem o que estão perdendo.

A Renata é seu primeiro relacionamento com uma mulher?
Ela é a minha primeira namorada. A gente se conheceu por meio de uma amiga em comum. A Renata viu uma foto minha na casa dessa amiga e falou que queria me conhecer. Eu ia fazer um show e elas compraram o ingresso. No final, o show acabou não rolando e essa amiga me ligou dizendo que queria me ver e me apresentar para a Renata. Nos conhecemos em um jantar. Não aconteceu nada, mas ficamos amigas. Começamos a nos seguir no Instagram e conversar. Foram dois meses de conversa, mas eu tinha muito medo. Ela foi em todos os shows do Trem da Alegria, a gente começou a sair pra tomar café... Comecei a sentir atração, mas ainda o medo me limitava. Mas a Rentava foi me conquistando até não dar mais para segurar.

Chegou em um bom momento, bem antes da pandemia...
Pois é e a gente se manteve firme mesmo na pandemia. Aprendi com os erros de outras relações do passado a conviver com alguém e respeitar as opiniões do outro sem querer mudar ou impor nada. Tem funcionado. Além disso, a relação com uma outra mulher é muito diferente. A mulher tem uma sensibilidade muito diferente da do homem. A gente nem precisa falar nada e já se entende. Não tem DR porque antes mesmo de falarmos sobre algo, já está resolvido. É muito mais dinâmica a relação. Com os homens, eu tinha que explicar tudo, era um processo mais lento.


MATÉRIA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO SITE DA QUEM DIGITAL

Entrevista: Marina Bonini (@marina_bonini)

LINK: https://revistaquem.globo.com/Entrevista/noticia/2021/03/patricia-marx-celebra-fase-artistica-e-amorosa-nunca-estive-tao-liberta.htm

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