Patricia Marx foi nos anos 80 um fenômeno dentro do fenômeno em que se constituiu a música infanto-juvenil daquela época. Depois de integrar durante quatro anos o grupo Trem da Alegria, de retumbante sucesso nacional, à partir de 1988 ela desenvolveu uma comercialmente muito bem-sucedida carreira solo representada por três discos lançados pela BMG.
Aí o tempo passou, a adolescência acabou e Patricia começou, como seria inevitável, a sua guinada artística. Primeiro, em 1992, fez um disco para o mercado japonês chamado "Neoclássico" em que interpretava standards da música brasileira - de Pixinguinha a Tom Jobim, de Noel Rosa a Rita Lee. Em seguida, de 1995 a 1998, já com o "Marx" incorporado ao seu nome artístico, ela gravou com produção de Nelson Motta e para o selo dele, o Lux Music, três cds. O primeiro deles com a música "Quando Chove" que virou hit na novela global "A Viagem".
Depois, em 1998, Patricia viajou para Nova York e mais nove cidades do Japão para divulgar Millenium - uma compilação com alguns dos melhores momentos da cantora em toda a sua carreira. As versões ao vivo de "Samba de Verão" com Marcos Valle e "Sabiá" e com Nando Cordel abrem a seleção de 20 sucessos de Patricia que após esse disco resolve parar para "respirar" por quatro anos. Nesse meio tempo ela casou-se com o produtor Bruno E, com quem teve um filho, e aproveitou a pausa para refletir e reciclar as idéias. Quatro anos depois, de volta de seu retiro, surge uma nova Patricia musicalmente mais sofisticada.
O disco "Respirar" que saiu pela Trama em 2002, sinaliza ao mesmo tempo um amadurecimento e um salto em relação aos anteriores. Um amadurecimento porque mantém o trabalho da artista tão pop e dançante quanto antes e um salto em relação aos anteriores porque incorpora elementos eletrônicos inéditos à música que ela praticava. Além disso, Patricia aparece pela primeira vez como compositora (apenas uma das 12 faixas não leva assinatura sua, o que dá ao disco o status de autoral) e também como produtora - função dividida com Bruno. Um dos grandes acontecimentos em torno deste album foi a participação dos produtores ingleses 4hero. Eles são considerados como um dos mais influentes produtores da música eletrônica européia. A participação do grupo marca o segundo capítulo da história de uma associação iniciada há cinco anos, quando Patricia foi convidada para ir a Londres cantar no disco deles - o "Creating Patterns".
Em 2002, Patricia vai morar um ano em Londres para divulgar seu álbum e faz três turnês pela Europa, se apresentando nas principais capitais - em lugares como Favela Chic (Paris), ICA, Cargo, Notting Hill Carnival, Momo's (Londres), La Palma Jazz Club (Roma), Quasimodo Jazz Club (Berlim) e em lugares em Amsterdam, Viena, Lisboa, Suiça, Bélgica, Portugal, Holanda. Daí então, a cena européia, mais precisamente a londrina, passa a representar uma nova esfera em termos de conceitos musicais para Patricia. São originários de lá os elementos eletrônicos que ela buscou para misturar com os daqui já conhecidos (samba, bossa, jazz brasileiro). Estilos como o broken beats - termo usado para batidas quebradas com influências de música brasileira.
Destas novas referências culturais, surge então o disco que marca uma ruptura sonora e estética na carreira da artista. Batizado de "Patricia Marx", o título homônimo marca uma nova era de criação e autonomia. Mais madura, agora com 30 anos, além de compor, ela toca e faz arranjos de cordas e programações eletrônicas trazendo influências das casas londrinas de black music e broken beats. Apostando no time que deu certo no disco anterior, conta novamente com a participação dos produtores 4hero e Bruno E. e novos parceiros como o Jair Oliveira, Silvera e Ady Harley.
Este disco é focado no que sempre esteve presente em todos os seus trabalhos anteriores - o seu canto soul - que sugere que nos deixemos levar pelo seu poder de sedução. Em uma atmosfera bastante confortável, Patricia passeia livre em suas melodias jazzísticas com nuances setentistas. Lançado na Europa antes do Brasil, o disco recebeu excelentes críticas das mais conceituadas revistas especializadas do velho continente como a inglesa DJ Magazine e a italiana Acid Jazz. Comparada a cantoras de renome nos EUA, como Lauren Hill, Erikah Badu e Jill Scott, Patricia Marx se firma definitivamente no mercado fonográfico internacional.
*EB - Você acha que esta faltando espaço na noite paulistana para mostrar sua musica e conseqüentemente para artistas que estão trabalhado em composições mais refinadas ?
Patricia - Há espaço, mas ainda bem pouco. Gostaria que houvesse mais lugares para trabalhos segmentados. Por outro lado, vejo que as pessoas estão se abrindo cada vez mais para coisas novas - o que é muito positivo nessa falta de opção e acesso à boa música. Então, quando há um espaço que ofereça isso ao público, é um sucesso. E parte disso, acontece não só por uma questão de modismo, mas da necessidade de se ouvir um bom set , agradável, musical, revitalizante e inovador. Felizmente, existem DJ´s, mas pouquíssimos artistas dispostos a nos oferecer isso.
* EB -Qual é a saída?
Patricia - É criarmos a cena para um novo conceito musical. Assim como aconteceu com a música eletronica, no início de sua existência aqui no Brasil em meados de 98. Incluindo movimentos bem expressivos como o drum´n´bass por exemplo. Na época, havia um grupo de pessoas que faziam o mesmo som, num mesmo lugar e uma residência. Hoje, há movimentos crescentes como o Future Jazz, que mistura Broken Beats, House, Samba , Soul e Jazz, dando a opção de uma gama musical bastante refinada ao público que quer fugir da mesmice.