Com o aguardado lançamento do album “Nos dias de Hoje, Esteja Tranquilo”, novo trabalho de Patrícia Marx, pela primeira vez dedicando um disco inteiro a um compositor (Ivan Lins), criou-se enorme expectativa de um show da cantora com o novo projeto. Após meses de ansiedade, o tão aguardado dia chegou: a apresentação da interprete no famoso e prestigiado Teatro Rival no Rio de Janeiro em 27 de novembro de 2025.
Eu (André Arteiro), Marquinhos, o Jasiel e o Manuel, fomos e ficamos na mesma mesa. Lá encontramos velhos amigos do fã-clube, como Michael, Márcio Marc, Alex, Rossana, Cláudia, Aldo, Mauro, Ronaldo e Jair, além de amigos mais recentes — os mais jovens Lucas e Alexandre. Também reencontrei a Bruna, o esposo Vinicius e o Geraldo, que conheci no meet & greet em Niterói. Ficamos conversando e trocando ideias sobre ela, mas a verdade é que estávamos todos muito ansiosos com o início do show, que já estava um pouquinho atrasado (cerca de meia hora). Até que tocaram os três sinais, com pequenos intervalos entre eles. Olhei para trás e vi que todo o teatro estava completamente lotado, com todas as mesas da parte de baixo ocupadas e o mezanino também.
Logo em seguida, já entrega uma das surpresas do setlist: sua versão de “Charme do Mundo”, hit de Marina Lima, com arranjo praticamente igual ao da faixa gravada por Patricia em 1998 no icônico álbum homônimo. Impossível não se emocionar. Ao final, ela presta reverência aos compositores: “Viva, Marina Lima, 70 anos! Viva Antônio Cícero!”. Uma homenagem dupla — ao aniversário recente da artista e ao irmão e parceiro musical, falecido há pouco mais de um ano. A surpresa também se deve ao fato de Patricia não cantar essa música ao vivo desde o lançamento do álbum, há 27 anos.
Patricia faz então uma pausa para falar do novo disco Nos Dias de Hoje, Esteja Tranquilo:
— Eu homenageio Ivan Lins no meu trabalho mais recente, no disco e aqui, nesse show. E estamos aqui pra cantar um Brasil que é do Ivan, que é meu, que é nosso. Um país que é uma potência gigante, cheio de possibilidades. Um país livre de amarras.
A próxima é um dos grandes hits da sua carreira: “Destino”, sempre muito amada pelos fãs, e que ganha mais uma bela interpretação ao vivo. Logo em seguida entra em cena outro medalhão de Ivan Lins, presente no álbum: a emocionante “Vieste", mais uma música de Ivan Lins que está no seu novo álbum. Patricia se atrapalha um pouquinho com a letra no primeiro verso, mas isso não compromete o resultado diante da entrega da interpretação — e da beleza da música, que está na memória afetiva de muita gente.
Ela faz então a primeira troca de figurino (tira o quimono, ficando com o vestido por baixo) e começa “Cedo ou Tarde", faixa do álbum Trinta (2013), mais uma surpresa que ela não cantava há algum tempo. Hit dos bailes charme no Rio, a música levanta o público. Em seguida, outro grande sucesso: sua versão soul de “Espelhos D’água”, hit de Dalto nos anos 80 que se transformou em um clássico maior ainda na voz dela nos anos 90, e com a regravação, também ao lado de Seu Jorge, que fez no álbum Trinta (2013). O público canta em coro com Patricia — lindo de ver.
O que vem a seguir é um dos grandes momentos da noite: “Ai, ai, ai, ai, ai”, outra de Ivan Lins, interpretada com toda a sensualidade que sua releitura — com toques de salsa — pede. Patricia se transforma no palco, com gemidos, dança sensual e uma performance magnética. Maravilhosa!
Ela faz mais uma mudança de figurino — simples, apenas colocando a balaclava igual à da capa do álbum — e entrega uma versão poderosa de “You Showed Me How”, faixa do álbum Nova (2018), que, salvo engano, ela nunca tinha cantado ao vivo. Valeu a espera. Ao final dessa música, Patricia abre uma bandeira no palco, onde está escrito "Free Palestine", e recebe muitos aplausos.
Na sequência, vem a arrebatadora versão de “Deixa Eu Dizer”, outro clássico de Ivan Lins (e sucesso na voz de Claudya nos anos 70), que Patricia já vinha apresentando em shows, antes mesmo de anunciar o projeto do álbum. A música funciona muito ao vivo, com o refrão cantado com força pelo público. Lamentamos apenas que não tenha entrado no álbum.
Ao fim dela, Patricia faz um discurso emocionante:
— Somos pouco mais de 100 milhões de mulheres no Brasil. Fomos silenciadas e invisibilizadas por séculos. Hoje, nossa voz é audível em diferentes pontos do país. E, juntas, podemos fazer dele um lugar democrático e ainda mais diverso e inclusivo, aos negros e à comunidade LGBTQIA+, da qual faço parte. Não, eu não vou me calar.
Essa música abre um bloco mais político do show, que inclui mais duas músicas de Ivan Lins, que estão presentes em seu novo disco: “Aparecida” e “Cartomante” . Esta última é recebida com entusiasmo — e até com gritos de “na Papuda!”, em clara referência à prisão de Jair Bolsonaro — enquanto Patricia canta o refrão “Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros…”. O público acompanha junto, em peso.
O bloco se encerra com a surpresa mais inesperada da noite: Patricia canta “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”, música gravada por Erasmo Carlos, que é tema do premiado filme Ainda Estou Aqui, iniciando com um solo poderoso de bateria de André Fernandes. A banda — completada por Bruce Lemos no teclado e Fábio Lessa no baixo — dá um show. A música é cantada em um tom mais grave que surpreende o público, e Patricia mistura ao final versos de “Você”, de Tim Maia. Um momento belíssimo.
A partir daí, vem a sequência de hits. Primeiro, “Te Cuida, Meu Bem”, do seu primeiro álbum solo, resgatado também no EP Sextapes Vol. 1 (2014). Essa versão funciona demais ao vivo, com Patricia sensual, solta, e brincando com a voz. No final, ela dá um show à parte, com improvisos jazzísticos e um agudo perfeito que arrancou aplausos calorosos.
Ela faz uma pausa para agradecimentos. Primeiro ao mestre Paulo Massadas, presente no teatro:
— Eu queria agradecer a presença do grande mestre Paulo Massadas, que compôs essa letra maravilhosa, assim como tantas outras… Ele faz parte da minha vida. Tio Paulinho…
Fãs gritaram pedindo músicas como “Cedo Demais” e “Incertezas”, mas ela desconversou:
— Aí eu tenho que fazer outros shows aqui pra cantar tudo.
E aproveitou para anunciar que o teatro já fechou com ela duas novas datas: 13 e 14 de março.
Patricia agradeceu ainda à atriz Ângela Leal, proprietária e diretora do Teatro Rival, à equipe técnica, à sua equipe (assessoria, som, produção, banda, fotógrafo Luan Lopez, Sérgio Martins da Lab e sua empresária Ana Charret). Agradeceu a presença de amigos, como o casal Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho e o intérprete Ito Melodia. E então veio uma surpresa carinhosa:
— Quero agradecer também ao querido André Arteiro, presidente do meu fã-clube, um menino que está comigo há muitos anos, desde que eu nasci, né André? Ele sabe a senha do meu banco. Preciso mudar —brincou — E ao Marquinhos também, que começou o fã-clube com ele… depois abandonou, né? — alfinetou, em tom divertido.
Ela agradeceu também ao hotel onde ficou hospedada em Niterói e, claro, ao público presente. Ela “encerra” com “Sonho de Amor”, outro grande sucesso de Sullivan e Massadas. Começa cantando um trecho de “Optimistic”, do grupo Sounds of Blackness, cuja batida também parece ter inspirado a nova versão. O público canta junto. No meio, ela insere versos de “Criança", outro sucesso de Marina Lima e sai do palco enquanto a plateia clama pelo bis.
E ele vem: primeiro com “Quando Chove”, para alívio do público em geral e de um rapaz da mesa ao lado que, segundo ele, “tinha ido só pra vê-la cantar a música da novela A Viagem”. A plateia canta com ela. E, para terminar em alto astral, não poderia faltar “Ficar com Você”, seu hit mais dançante — e Patricia encerra o show nitidamente muito feliz.
Mais uma vez constatei algo que nunca muda: mesmo exausta, mesmo depois de se entregar inteira no palco e com uma fila enorme esperando, Patricia nos recebe com um sorriso, com carinho e com atenção genuína. Ela olha nos olhos, abraça com afeto e trata cada fã como alguém que importa. Esse lado humano, acolhedor e generoso faz a gente amar ainda mais a artista — e a pessoa.
Quanto ao show… foi emocionante. O que vi no palco foi uma artista no auge da sua maturidade artística: desenvolta, segura, com total domínio de cena e uma voz mais perfeita do que nunca. Um show impecável, que me levou às lágrimas em vários momentos.
E em 13 e 14 de março estaremos de volta. Os ingressos já estão à venda!
Produção:
Ana Charret
Lab 344
Direção:
Christovam de Chevalier
Músicos Power Trio:
Bruce Lemos (Teclados)
André Fernandes (Bateria)
Fábio Lessa (Baixo)
SETLIST:
Introdução: Sino da Igrejinha (Barrozo Neto/ Marlinha Braga)
1) Abre Alas (Ivan Lins/ Vitor Martins)
2) Charme do Mundo (Marina Lima/ Antônio Cícero)
3) Destino (Marcos Valle/ Paulo Sérgio Valle)
4) Vieste (Ivan Lins/ Vitor Martins)
5) Cedo ou Tarde (Patricia Marx/ Filiph Neo/ Sorry Drummer/ Bruno E.)
6) Espelhos D'água (Dalto/ Cláudio Rabello)
7) Ai, ai, ai, ai, ai (Ivan Lins/ Vitor Martins)
8) You Showed Me How (Patricia Marx/ Herbert Medeiros/ Robinho Tavares/ Marc Clair)
9) Deixa (Ivan Lins/ Ronaldo Monteiro)
10) Aparecida (Ivan Lins/ Maurício Tapajós)
11) Cartomante (Ivan Lins/ Vitor Martins)
12) É Preciso Dar Um Tempo, Meu Amigo (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos)
Incidental: Você (Tim Maia)
13) Te cuida meu bem (Michael Sullivan/ Paulo Massadas)
14) Sonho de Amor (Michael Sullivan/ Paulo Massadas)
Incidentais:
Optimistic (Gary Hines/ Jimmy Jam/ Terry Lewis)
Criança (Marina Lima)
Bis:
15) Quando Chove (Pino Daniele/ versão: Nelson Motta)
16) Ficar com você (T. Boy Ross/ Leon Wire/ versão: Nelson Motta)







